terça-feira, 19 de agosto de 2008

Quadro de "ajuda ao pobre" faz TVs subirem no Ibope

O assistencialismo promovido por programas de TV dispara no ibope em várias emissoras, abertas ou pagas. A fórmula é a mesma: uma tremenda história tristonha; personagens pobres de marré; trilha sonora piegas e muito close nas lágrimas dos "assistenciados", assim que abrem a porta da casa nova, quando vêem a reforma do puxadinho, ao receber as chaves do carreco novo.
Um dos programas que está registrando a maior alta de ibope devido ao quadro é o "Domingo Legal", de Gugu Liberato. O quadro é intermediário do "formato-assistência": as pessoas mandam cartas à produção do SBT, dizem o que gostariam de reformar em sua casa e os eleitos são atendidos. No caso no SBT, somente um cômodo ou local é incrementado.
O quadro é responsável por quase todos os picos de ibope do "Domingo Legal". A média do programa fica em 15 ou 16. Quando o quadro assistencial entra no ar, esse índice sobe até 10 pontos.
Na Globo, o quadro Lar Doce Lar (do "Caldeirão do Huck") dá casa nova e adaptada para famílias que contam com portadores de deficiência, doença, viuvez e outros revezes da vida. A escolha também é por carta.
O programa registra médias normais entre 17 e 19 pontos aos sábados. Quando o quadro entra, o "Caldeirão" sobe em minutos para 25.
Huck se inspira claramente no programa da TV fechada "Extreme Makeover", hoje também responsável pelas maiores audiências do People Arts
Vale lembrar que nada disso é novidade. Nos anos 70 já grassava na TV brasileira quadros "assistencialistas". O mais famoso era o "Boa Noite, Cinderela", de Silvio Santos, no qual uma menina pobre, geralmente da periferia de São Paulo, era visitada e levada ao trono pelo então príncipe Mateus Carrieri (hoje uma estrela do pornô nacional).
Também nos anos 90 a TV foi marcada pelo famoso "Caminhão do Faustão", em que um felizardo sorteado por carta via chegar em casa um carregamento de utensílios domésticos e de lazer.
No final dos anos 90 e primeiros anos deste milênio, apresentadores como Ratinho, Márcia Goldshimidt e João Kleber se somaram ao "movimento", e acabaram por rebaixar ainda mais o assistencialismo, ao nível de "baixaria na TV". Em vez de resolver problemas das pessoas, por que não exibi-los à sanha de telespectadores, pancadas ao vivo?
Fonte: Ricardo Feltrin - UOL

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