A menos de dez dias do início do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV, estúdios, produtoras de som e músicos acostumados a trabalhar por encomenda têm seu momento mais agitado do ano. O motivo do alto índice de ocupação destes profissionais e empresas é o “jingle”, ou a música-tema dos candidatos, produto quase obrigatório na campanha. O objetivo é simples: grudar na cabeça do eleitor, emocionar e até convencê-lo de que um certo aspirante ao cargo público é o ideal.
Em tempo de eleição municipal, quando há movimentação em todos as cidades do Brasil com um alto contingente de candidatos, as oportunidades de negócios são maiores, e o trabalho acaba pulverizado por todo o território nacional. Produtoras ouvidas pela reportagem do G1, baseadas em São Paulo, no Rio e em Campinas, produzem jingles para todo o Brasil. “A eleição para prefeito e vereador é superimportante para o mercado de produção de jingles pela quantidade de candidatos. São várias cidades, grandes e pequenas, e o número de candidatos a vereador também é muito grande. Isso, é claro, reflete no mercado, que fica mais aquecido que o normal”, diz Vlademir Silva, sócio do estúdio Friends, de São Paulo.
“Dá um faturamento equivalente ao que você ganharia em seis, oito meses. Em um ano normal, talvez demorasse o dobro do tempo pra faturar a mesma grana”, conta o compositor e roteirista Paulo Garfunkel, que, desde a segunda quinzena de maio, diz ter recebido cerca de três consultas por semana de interessados em jingles eleitorais. Com a grande quantidade de candidatos, a oportunidade de trabalho e lucro é dividida por diferentes empresas. De fato, há mais trabalho, mas, por outro lado, os preços são mais baixos que os cobrados na campanha estadual. “O dinheiro fica mais pulverizado”, diz Vlademir Silva. Com o aumento da demanda, Gustavo Souza, da Fábrica do Som, de Campinas, conta que teve de aumentar a equipe. “Contratei mais de sete pessoas e mesmo assim faz seis semanas que não sei o que é um domingo”, diz.
Segundo ele, o volume de trabalho fica maior porque além das encomendas políticas, o trabalho publicitário que sustenta o negócio durante todo o ano não pode ser desprezado. “É o nosso ganha pão, afinal”, diz.
“Dá um faturamento equivalente ao que você ganharia em seis, oito meses. Em um ano normal, talvez demorasse o dobro do tempo pra faturar a mesma grana”, conta o compositor e roteirista Paulo Garfunkel, que, desde a segunda quinzena de maio, diz ter recebido cerca de três consultas por semana de interessados em jingles eleitorais. Com a grande quantidade de candidatos, a oportunidade de trabalho e lucro é dividida por diferentes empresas. De fato, há mais trabalho, mas, por outro lado, os preços são mais baixos que os cobrados na campanha estadual. “O dinheiro fica mais pulverizado”, diz Vlademir Silva. Com o aumento da demanda, Gustavo Souza, da Fábrica do Som, de Campinas, conta que teve de aumentar a equipe. “Contratei mais de sete pessoas e mesmo assim faz seis semanas que não sei o que é um domingo”, diz.
Segundo ele, o volume de trabalho fica maior porque além das encomendas políticas, o trabalho publicitário que sustenta o negócio durante todo o ano não pode ser desprezado. “É o nosso ganha pão, afinal”, diz.
Vida política
Mas nem sempre o sucesso de um jingle de campanha gera retorno financeiro.
O compositor e professor de música Hilton Acioli, autor da música “Lula lá”, que marcou a primeira campanha à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, conta que não recebeu nada pelo jingle.
Segundo ele, foi uma forma de fazer uma “doação, de participar da vida política” e de divulgar seu trabalho. “Achava interessante a idéia de fazer uma música que o Brasil pudesse conhecer. Não esperava que fosse tão marcante”, diz. “Nas quatro campanhas do Lula, em 89, 94, 98 e 2002, eles usaram o ‘Lula lá’. Ficou 13 anos em cartaz. É por isso que as pessoas lembram tanto”, conta.
A música era o tema oficial da campanha de 1989 e foi usada informalmente nas outras campanhas, segundo a Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT.
O que é um bom jingle
Mas nem sempre o sucesso de um jingle de campanha gera retorno financeiro.
O compositor e professor de música Hilton Acioli, autor da música “Lula lá”, que marcou a primeira campanha à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, conta que não recebeu nada pelo jingle.
Segundo ele, foi uma forma de fazer uma “doação, de participar da vida política” e de divulgar seu trabalho. “Achava interessante a idéia de fazer uma música que o Brasil pudesse conhecer. Não esperava que fosse tão marcante”, diz. “Nas quatro campanhas do Lula, em 89, 94, 98 e 2002, eles usaram o ‘Lula lá’. Ficou 13 anos em cartaz. É por isso que as pessoas lembram tanto”, conta.
A música era o tema oficial da campanha de 1989 e foi usada informalmente nas outras campanhas, segundo a Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT.
O que é um bom jingle
Para o publicitário Washington Olivetto, “jingle bom é aquele chiclete de ouvido”. Os produtores concordam. Vlademir Silva diz que o bom produto tem um refrão que fica na cabeça das pessoas, que marca candidato de alguma maneira. Hilton Acioli, autor do “Lula lá”, alerta que música ruim também gruda – e pode irritar o eleitor. Para ele, um exemplo negativo é o jingle que abusa da repetição do nome e do número do candidato. “Aí, fica uma coisa repetitiva, chata. As pessoas gravam, mas ficam com raiva. (...) Na hora em que você está fazendo o jingle político, está construindo a imagem do candidato, do partido. Ele pode até não ganhar naquele momento, mas fica a imagem dele”, diz.
Mais canção, menos publicidade
Segundo Paulo Garfunkel, o jingle deve se parecer mais com uma canção e menos com uma forma de se vender um produto - no caso, o candidato. “Ainda mais que o produto está muito desvalorizado no mercado. É mais fácil vender sandália havaiana”, brinca. Assim como o refrão, o ritmo conta muitos pontos a favor de um jingle eficiente. “Ritmos mais alegres pegam melhor e variam de acordo com a região. Country para o interior de São Paulo, axé pra Bahia. Mas também há casos de que a música e a candidatura são uma coisa mais emocional. E aí nem fala de música animada, vai mais pra uma balada”, diz Silva. A mensagem tem que ser simples, direta, sem overdose de informação. “Se você dá muita informação que é de bula, de folheto, ele perde a flutuabilidade. E o jingle tem que flutuar que nem balão chinês. Tem que ter uma estrutura conhecida, mas também não pode ser conhecida demais, se não fica parecido com tudo. Tem que ter uma dose de inovação, uma de redundância e uma boa dose de autocrítica por parte de quem faz”, diz Garfunkel. Nas rimas, é preciso cuidado com palavras perigosas, que podem ser trocadas pelo adversário e fazer o jingle virar piada. “Acabamos de fazer um candidato de Jaú. Você tenta não colocar no fim da frase musical. “não sei o quê, não sei o quê, Jaúuuuu”. É levantar a bola para ser cortada. Então ficava “Jaú precisa de vocêeee” então pronto, ufa, Jaú ficou no meio”, conta Garfunkel.
Mais canção, menos publicidade
Segundo Paulo Garfunkel, o jingle deve se parecer mais com uma canção e menos com uma forma de se vender um produto - no caso, o candidato. “Ainda mais que o produto está muito desvalorizado no mercado. É mais fácil vender sandália havaiana”, brinca. Assim como o refrão, o ritmo conta muitos pontos a favor de um jingle eficiente. “Ritmos mais alegres pegam melhor e variam de acordo com a região. Country para o interior de São Paulo, axé pra Bahia. Mas também há casos de que a música e a candidatura são uma coisa mais emocional. E aí nem fala de música animada, vai mais pra uma balada”, diz Silva. A mensagem tem que ser simples, direta, sem overdose de informação. “Se você dá muita informação que é de bula, de folheto, ele perde a flutuabilidade. E o jingle tem que flutuar que nem balão chinês. Tem que ter uma estrutura conhecida, mas também não pode ser conhecida demais, se não fica parecido com tudo. Tem que ter uma dose de inovação, uma de redundância e uma boa dose de autocrítica por parte de quem faz”, diz Garfunkel. Nas rimas, é preciso cuidado com palavras perigosas, que podem ser trocadas pelo adversário e fazer o jingle virar piada. “Acabamos de fazer um candidato de Jaú. Você tenta não colocar no fim da frase musical. “não sei o quê, não sei o quê, Jaúuuuu”. É levantar a bola para ser cortada. Então ficava “Jaú precisa de vocêeee” então pronto, ufa, Jaú ficou no meio”, conta Garfunkel.
Criação
O processo de criação de um jingle começa na base da campanha. Os produtores recebem um “briefing” (resumo) dos marqueteiros contratados pelos candidatos com suas propostas e projeto de governo e a partir daí desenvolvem os tópicos mais importantes. Outras vezes, o próprio candidato procura o estúdio e uma rápida entrevista resolve a temática da música a ser composta. “Pega o briefing, faz a melodia e a letra e, depois, uma ‘cantada telefônica’. Aí vai com o violãozinho na orelha do cara e é uma hora onde, se o cara meter o bedelho, tem tempo de adaptar”, conta Garfunkel.
É um bom momento para, por exemplo, o cliente reconhecer se a letra utiliza alguma expressão ou palavra que é marca do adversário - e evitar dar munição para o oponente.
'Briefing' por e-mail
Por conta da procura, e para economizar tempo, algumas vezes a consulta acaba sendo feita de forma virtual. É o caso do produtor musical Marcelo Morgan, que, com mais de 50 jingles políticos produzidos apenas neste ano, substituiu o briefing “presencial” por um questionário enviado por e-mail. Uma página criada na internet, espécie de blog com acesso restrito ao cliente, tomou o lugar da “cantada telefônica”. Na página, os coordenadores de campanha podem deixar comentários sobre a letra, o ritmo, a melodia. E, se precisar mudar, a tecnologia ajuda.
“Antes, por exemplo, para você fazer um jingle, levava uma tarde. Hoje, faz tudo em uma hora”, conta Morgan, que trocou a parafernália de mesas de som por softwares.
A tecnologia ajuda a reduzir tempo, custos e também a diversificação. “O cliente está comprando o direito de uso. Uma música que você usa para um candidato em uma cidade, você pode usar em outro local. Ele [o candidato] não está comprando a exclusividade da música. Até porque não teria como pagar isso”, diz.
E será que ninguém reclama de ver letras e melodias “adaptadas” em outra campanha?
“Nunca tive esse problema porque a gente trabalha com um custo que cabe no bolso de candidatos do Brasil inteiro. Eles têm essa consciência. Qualquer candidato que quiser comprar uma música, vai gastar uns R$ 30 mil. Mas quem paga isso? Só acontece realmente nas campanhas grandes”, responde.
O processo de criação de um jingle começa na base da campanha. Os produtores recebem um “briefing” (resumo) dos marqueteiros contratados pelos candidatos com suas propostas e projeto de governo e a partir daí desenvolvem os tópicos mais importantes. Outras vezes, o próprio candidato procura o estúdio e uma rápida entrevista resolve a temática da música a ser composta. “Pega o briefing, faz a melodia e a letra e, depois, uma ‘cantada telefônica’. Aí vai com o violãozinho na orelha do cara e é uma hora onde, se o cara meter o bedelho, tem tempo de adaptar”, conta Garfunkel.
É um bom momento para, por exemplo, o cliente reconhecer se a letra utiliza alguma expressão ou palavra que é marca do adversário - e evitar dar munição para o oponente.
'Briefing' por e-mail
Por conta da procura, e para economizar tempo, algumas vezes a consulta acaba sendo feita de forma virtual. É o caso do produtor musical Marcelo Morgan, que, com mais de 50 jingles políticos produzidos apenas neste ano, substituiu o briefing “presencial” por um questionário enviado por e-mail. Uma página criada na internet, espécie de blog com acesso restrito ao cliente, tomou o lugar da “cantada telefônica”. Na página, os coordenadores de campanha podem deixar comentários sobre a letra, o ritmo, a melodia. E, se precisar mudar, a tecnologia ajuda.
“Antes, por exemplo, para você fazer um jingle, levava uma tarde. Hoje, faz tudo em uma hora”, conta Morgan, que trocou a parafernália de mesas de som por softwares.
A tecnologia ajuda a reduzir tempo, custos e também a diversificação. “O cliente está comprando o direito de uso. Uma música que você usa para um candidato em uma cidade, você pode usar em outro local. Ele [o candidato] não está comprando a exclusividade da música. Até porque não teria como pagar isso”, diz.
E será que ninguém reclama de ver letras e melodias “adaptadas” em outra campanha?
“Nunca tive esse problema porque a gente trabalha com um custo que cabe no bolso de candidatos do Brasil inteiro. Eles têm essa consciência. Qualquer candidato que quiser comprar uma música, vai gastar uns R$ 30 mil. Mas quem paga isso? Só acontece realmente nas campanhas grandes”, responde.
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