quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O mercado de publicidade está saturado, alerta Sergio Valente

Formado em Engenharia Civil, o publicitário Sergio Valente descobriu o prazer de trabalhar com propaganda quando percebeu que gostava mais de vender prédios do que construí-los. "Os corretores gostavam de apresentar os apartamentos aos compradores comigo. Era um grande conversador", diz o baiano, que mudou de área de vez ao descobrir com seu amigo de longa data Nizan Guanaes que esta era uma excelente característica para quem trabalha com publicidade.
Presidente de uma das maiores agências do país, a DM9DDB, Valente diz que o mercado está saturado, com muitos profissionais formados disponíveis. As perspectivas, no entanto, são boas, segundo ele, uma vez que o país vive um bom momento econômico. Para Valente, o segredo para o sucesso é diretamente proporcional à quantidade de trabalho. "Quem conta as horas não pode ser publicitário. Já fiz campanha tomando banho, crio no final de semana. Não é que você não descanse, mas você descansa trabalhando também", diz o publicitário, que recomenda aos aspirantes à carreira estagiar cedo. "Entrem no mercado o mais rapidamente que puderem".

Como você enxerga o mercado publicitário daqui alguns anos? (Ana Caroline Gama)
VALENTE: O mercado publicitário brasileiro é muito bom, pois aqui há duas condições muito favoráveis: a primeira é o fato de ser um país enorme, que fala uma língua só. Isso facilita uma comunicação maciça. O Brasil vive um momento econômico muito bom, e acho que a propaganda tende a melhorar de qualidade e quantidade, devido ao poder econômico.
O que você acha da publicidade ser tratada como "arte aplicada"? (Derek Ferreira)
VALENTE: Não acho que a publicidade é a "arte aplicada", penso que é o comércio utilizando a arte. Não há muita diferença entre o publicitário e o vendedor de enciclopédia. Uso essa expressão há muito tempo, mas acho que a gente só usa a ferramenta diferente. Assim como um vendedor de cosméticos bate na porta das clientes, o publicitário bate na porta através de TV, rádio.
Como você vê o futuro da publicidade em meio a tantas restrições que o governo quer impor? (André Andrade)
VALENTE: O fato de o terreno ter cerca não o impede de ter uma plantação. Se o limite for claro e objetivo, é só ser criativo. O difícil não é ter limite, mas sim não ter clareza dele, pois assim você não sabe onde está pisando. A restrição favorece a criatividade. Falando assim parece fácil, mas não é. Não é fácil ser criativo, mas o limite não pode ser visto como uma barreira, senão como um espaço onde você trabalhará e criará.

É vantajoso cursar Publicidade e Desenho Industrial ao mesmo tempo? (Nathany Santos)
VALENTE: Não cursei Desenho Industrial, mas toda formação acadêmica é importante para o crescimento como profissional e ser humano. A faculdade ajuda a entender a vida.
A publicidade é uma profissão glamorosa. Mas sucesso na carreira e financeiro apenas nas áres de criação e atendimento. Por que isso acontece? (Epaminondas Costa da Cunha)
VALENTE: Não concordo. Um dos caras mais glamosos, mais inteligentes da propaganda brasileira é o Julio Ribeiro da Talent, que é um cara de planejamento. Talvez o mais glamoroso dos publicitários seja o Roberto Justus e ele não é de criação, nem atendimento, ele é um cara de business.
É aquela história do ovo do pato e da galinha, todo mundo come mais o ovo da galinha porque a galinha cacareja. Talvez, o criativo e o cara de atendimento cacarejem mais. Mas você não reconhecer o sucesso na mídia, por exemplo, de um Paulo Queiroz, de um Daniel Barbará, da Maria Lúcia Cucci, do Luis Fernando Vieira, é uma grande bobagem. Eles são extremamente glamorosos, bem sucedidos e são de outras áreas.
Existe uma região do Brasil mais indicada para quem deseja seguir nessa carreira?
VALENTE: Sem dúvida nenhuma, perto do furacão econômico do país. É mais fácil junto ao poder econômico, conseqüêntemente, na região sudeste.
Como combater a crescente desvalorização dos profissionais de publicidade e propaganda do Rio que muitas vezes são obrigados a trabalhar sem carteira assinada e com salários cada vez mais baixos para se manter no mercado? (Ricardo Ribeiro de Souza)
VALENTE: A propaganda tem ligação direta com o crescimento da economia, quanto mais o Rio de Janeiro cresce economicamente, mais a propaganda irá crescer. Tudo que ouço falar do Rio - novos portos, novas fábricas - sinalizam que ele tem tudo para crescer e o mercado carioca precisa ficar atento, pois, as oportunidades irão surgir.
Espaço tem, acho que o Rio está vivendo um momento fantástico de crescimento. Uma outra agência do grupo ABC, a MPM, está crescendo muito no estado, a tendência é que cresça ainda mais, ela tem isso como foco. Tem agências como a Agência 3, a Contemporâne , assim como grandes profissionais.
Minha dúvida é sobre vocação. Acho produção muito legal, mas tenho medo de não conseguir me manter no mercado. Também gosto de Marketing, mas todos os estágios já pedem experiência. Como a gente descobre no que é bom? (Alessandra Neto)
VALENTE: Fazendo. Você só descobre realmente no que você é bom, experimentando, vivendo o dia-a-dia da profissão. Se você gosta de produção: experimente! Existem excelentes produtoras no Rio de Janeiro. Se você gosta de marketing, experimente. Estude e experimente. A vantagem do marketing é que você pode estar no marketing do cliente, na agência... Experimente, pois é o único jeito de você descobrir se você é bom.

Fonte: Jornal O Globo

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